Aline Pan, professora e pesquisadora da UFRGS, relata sobre a participação feminina no mercado de energia solar e as dificuldades e desafios enfrentados por mulheres que atuam na área.

Março é representado, internacionalmente, como um mês de luta para as mulheres. Ao longo da história, elas protagonizaram diversas mobilizações na busca por equidade, que resultaram em avanços e conquistas. Entretanto, ainda existem muitos obstáculos, como a inclusão no mercado de trabalho. A participação feminina no setor da energia solar, por exemplo, ainda é muito baixa.
Segundo uma pesquisa da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), apenas 32% das mulheres ocupam cargos no setor de energias renováveis. Desse percentual, 45% das mulheres realizam trabalhos administrativos.
Quando falamos especificamente do setor solar, a pesquisa realizada pela GWNET, aponta para 20% da participação feminina. Delas, 11% atuam na parte técnica e 50% na parte administrativa.
Aline Pan, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), realiza pesquisas sobre gênero no setor da energia solar; conversores fotônicos e pontos quânticos nas células solares bifaciais de silício.
Ela também faz parte da Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar e relata alguns desafios que enfrenta nesse ramo, pelo fato de ser mulher.
Desafios enfrentados pelas mulheres no setor solar
Como a maior parte da força de trabalho na área é composta por homens, idealiza-se que esse não é um espaço para mulheres. Isso dificulta a participação feminina no mercado, gerando preconceitos que funcionam como barreiras para aquelas que querem atuar no setor.
Um dos principais obstáculos está na falta de credibilidade que é dada a elas. Aline Pan relata que é muito difícil lidar com a falta de reconhecimento e respeito. Isso porque, mesmo possuindo experiência e domínio do assunto, as mulheres têm a sua qualificação questionada. É preciso que haja a resposta de um homem para validar e valorizar esse conhecimento.
Incentivo à participação feminina no mercado de energia solar

Aline Pan reforça a necessidade da representatividade de mulheres no mercado, exercendo suas funções técnicas no setor e sendo respeitadas. Como resultado, isso impulsiona outras mulheres a se interessarem pela área.
Outras ações extremamente importantes, na visão da pesquisadora, são políticas públicas e empresariais que incentivam a participação feminina no setor. Considerando, principalmente, a maternidade como um afastamento temporário, compreendendo que naturalmente a mulher não terá a mesma produtividade durante esse período inicial. Entretanto, ela logo irá se recuperar.
Complementa afirmando que existem vários estudos apontando para essa questão. Eles apresentam que a diversidade ajuda essas empresas e locais a prosperarem economicamente, cientificamente e tecnicamente. Isso porque a visão plural traz a resolução dos problemas de uma maneira muito mais correta e eficiente.
Jornada tripla das mulheres
Aline relata sobre a dificuldade de ter que lidar com uma jornada tripla. Ela possui dois filhos e precisa se dividir entre a rotina de trabalho, estudos e atividades domésticas. O que causa uma sobrecarga e sensação de injustiça, porque a sociedade constituiu esse modelo para a mulher e é difícil alterá-lo.
Contudo, afirma que sempre luta para superar isso e conciliar tudo de uma forma que seja benéfica para todos, inclusive para ela mesma.
Ações da Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar
O movimento está centrado em cinco eixos principais, que são: conectar, inspirar, informar, promover e organizar a equidade de gênero. Dentro desses cinco núcleos de ações, são realizadas várias atividades.
Uma delas é o desenvolvimento de uma plataforma que conecta as mulheres, seja pelos trabalhos que elas realizam, por suas semelhanças, como filhos e áreas de interesses em estudo/pesquisa ou pela área técnica, como uma forma de se conectar de verdade.
“A rede visa promover um evento, com a participação de mulheres como palestrantes, expositoras e agentes de mudança, para mostrar essa representatividade. Essa é uma maneira de realizar um networking, que não tenha apenas homens como figuras principais. Nós precisamos passar a mostrar todas as caras, todas as vozes do setor”, afirma Aline.
As atividades também estão voltadas para o desenvolvimento de cartilhas de boas condutas para eventos, concursos e seleções de candidatos em empresas.
Bem como, são feitas parcerias com entidades internacionais para a realização de pesquisas, identificando a realidade e relação das mulheres no setor de energia solar. São realizados webinars, lives e etc, tentando abranger os cinco eixos.
Aqui (página 34), um trabalho desenvolvido na UFF sobre como incluir a questão de gênero na formação de mão de obra voltada para o mercado fotovoltaico:
METODOLOGIA ATIVA E PERSPECTIVA DE GÊNERO EM FORMAÇÃO VOLTADA PARA O MERCADO FOTOVOLTAICO: UM ESTUDO DE CASO
https://www.uff.br/sites/default/files/paginas-internas-orgaos/revista_uff_sociedade_n3_-_2023-07-19.pdf